Posted by Thoth3126 on 28/05/2019A quinta geração da telefonia móvel se transformou na nova arma de destruição em massa na guerra contra a China declarada pelos EUA através do governo Trump. “A tecnologia 5G é algo que beneficia a sociedade. Não deveríamos ser o alvo dos EUA só porque estamos na frente deles no 5G”. Com estas solenes palavras, Ren Zhengfei, fundador e presidente da gigante Huawei, advertia ao mundo na semana passada que a quinta geração da telefonia móvel, supostamente destinada a revolucionar a indústria tecnológica e o cotidiano dos cidadãos do planeta, não pode se transformar em uma arma de destruição em massa, como, no seu entender, pretende fazer o governo de Donald Trump ao impor restrições à companhia chinesa.
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Guerra de sanções EUA x China: o problema se chama 5G e o controle da I.A.(Inteligência Artificial), não é o seu celular Huawei.
Fonte: https://brasil.elpais.com/
Por Ramon Muñoz e Amanda Mars - Sentenças entre { } são de Thoth.
O veto do Governo norte-americano, primeiro às redes, e agora aos celulares do fabricante asiático, é uma declaração de guerra que vai muito além das hostilidades tarifárias. O anúncio do Google de que deixará de dar suporte aos smartphones da Huawei foi um golpe de efeito mundial. Milhões de usuários se levantaram na segunda-feira passada sobressaltados ao saberem que seus celulares poderiam virar uma casca de ovo vazia, porque o Android, o sistema operacional com o qual operam, já não disporiam de atualizações do sistema do Google.
Por mais grave que seja o fato de uma decisão governamental condenar milhões de aparelhos à obsolescência, isso é só o primeiro aviso do vulcão prestes a entrar em erupção. A maior erupção, a definitiva, está por vir sob a sigla 5G. Esta tecnologia não é só um avanço a mais. Carros autônomos funcionarão graças a essa quinta geração de celulares, e os robôs industriais poderão processar qualquer ordem em tempo real, o que os transformará em máquinas eficientes e quase humanas, capazes de substituir não só operários de uma fábrica, mas também permitir que um cirurgião opere à distância, por exemplo. Será uma nova era em que a importância da Inteligência Artificial crescerá exponencialmente.
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O início da Era da Invenção contínua
“O sistema 5G marcará o começo do que chamamos de era da invenção. É muito mais profundo do que o que vimos antes com a adoção do 4G ou qualquer avanço anterior. E não é um exagero. O sistema 5G e a inteligência artificial significarão bilhões de elementos conectados, enormes quantidades de dados, e todos eles na nuvem. Mudará a forma de compartilhar arquivos, as compras on-line e a reprodução de conteúdos”, disse Cristiano Amon, presidente da Qualcomm, no recente Congresso Mundial do Celular (MWC19) em Barcelona.
O sistema 5G abrirá caminho para a quarta revolução industrial graças a saltos de inovação {que será constante e em progressão geométrica} que representam uma mudança tecnológica total. As conexões 5G são 10 vezes mais rápidas que as 4G atuais (embora em laboratórios se alcancem velocidades até 250 vezes maiores). Graças a esse imediatismo e instantaneidade, será possível assistir a conteúdos em realidade virtual ou com qualidades inimagináveis, como a televisão 8K.
Em segundo lugar, multiplica por 100 o número de aparelhos conectados com o mesmo número de antenas, que também serão muito menores. Resolve assim o problema da cobertura em grandes aglomerações, como estádios de futebol e shows. Além disso, reduz também a uma décima parte o consumo de bateria dos dispositivos (alarmes, células ou chips), o que lhes dará mais autonomia para funcionarem durante anos.
Permitirá a condução autônoma de veículos
O maior avanço do 5G, porém, será a redução da latência, o tempo de resposta que um dispositivo leva para executar uma ordem desde que o sinal de comando é enviado. Quanto mais baixa for a latência, mais rápida será a reação do aparelho que acionarmos à distancia. O sistema 5G reduz esse atraso a um milésimo de segundo. Uma reposta tão instantânea permite que a condução autônoma de veículos seja segura, e também que sistemas de comunicação, segurança e defesa sejam operados à distância. Por isso Trump centrou toda a sua artilharia na Huawei, porque ela domina a construção de redes de telefonia 5G.
O que está por trás do duelo tecnológico entre os EUA e a China tem a ver com a enorme preocupação norte-americana em ter a primazia em relação à China na corrida militar, e o sistema 5G figura no centro dessa inquietação. O Pentágono menciona isso em um relatório ao Congresso, no qual destaca o desenvolvimento de empresas como Huawei e ZTE e aponta que o esforço de Pequim para “construir grandes grupos empresariais que obtenham um rápido domínio do mercado, com um amplo leque de tecnologias, complementa diretamente os esforços de modernização do Exército e traz consigo implicações militares sérias”. {Principalmente, coloca em risco o atual sistema de controle do tráfego de dados e informações gerais e seu uso para exercer vigilância sobre tudo e todos, através de gigantes de TI conforme denunciado pelo insider denunciante Edward Snowden, ou seja, os EUA acusam a China de tentar fazer o mesmo que as 17 agências de inteligência dos EUA faz hoje!}
A questão chave é o “Controle dos Sistemas de Comunicação” e defesa
Numa linguagem muito mais contundente, expressava-se o general aposentado James L. Jones: “A tecnologia 5G da Huawei é a versão século XXI do mitológico Cavalo de Troia”, advertia num documento de recomendações publicado em fevereiro passado pelo Atlantic Council, um dos grandes think tanks de Washington.
“Se controlar também a infraestrutura digital do século XXI, a China intensificará a sua posição para os propósitos de segurança nacional e terá uma influência coercitiva sobre os EUA e seus aliados, já que essas redes processarão todo tipo de dados. E a China, obviamente, as usará para realizar espionagem”, afirmou Jones. “A expansão do sistema 5G chinês ameaçará a interoperabilidade da OTAN, já que os EUA não poderão integrar sua rede 5G segura com nenhum elemento dos sistemas chineses.”
O presidente norte-americano acredita que a Huawei pode instalar nas redes uma camada oculta (conhecida como “porta traseira”- back door), com a qual o Governo chinês controlará as comunicações do mundo todo, incluindo as do EUA. Na última semana, a Huawei reiterou diversas vezes que essa informação é falsa, oferecendo a qualquer autoridade o acesso às suas redes para que possam constatar isso.
Liderança e tecnologia
A Huawei detém 35% do mercado na Europa nas redes de nova geração do sistema 5G. Mais de 2.500 patentes relativas ao 5G levam seu nome. A empresa também tem contratos com cerca de 40 operadoras. Se estas, incluindo as espanholas (Telefônica, Vodafone e Orange) se unirem ao bloqueio à Huawei, não poderão lançar a tempo uma rede 5G. De fato, a Europa já está atrasada em relação a países como EUA, Japão, China e Coreia. Somente a Nokia e a Ericsson podem lhe fazer frente nessa disputa, mas a tecnologia e o posicionamento da empresa chinesa são mais avançados e baratos.
“Nossas tecnologias 5G estão pelo menos dois anos na frente e serão líderes mundiais durante muito tempo”, disse na última semana Zhengfei, em declarações citadas por jornais chineses. “Nossas estações de 5G podem ser instaladas manualmente. Não é preciso contar com torres e guindastes nem bloquear estradas para construí-las, já que têm o tamanho de uma maleta. Por isso, é justamente o departamento do sistema 5G que tem sido alvo dos ataques dos EUA.”
O fundador da Huawei, cuja biografia começa como militar do Exército Vermelho, tranquilizou o fervor da audiência, pedindo que não se recorra ao nacionalismo nem ao populismo em resposta ao bloqueio norte-americano.
Resposta da China ao desafio dos EUA
A China tem muitas armas tecnológicas e comerciais em seu arsenal para responder ao desafio. A primeira: é o primeiro investidor mundial em inovação, e sua retirada dos países ocidentais causaria danos consideráveis. O gigante asiático também pode cortar o fluxo das exportações dos metais raros, imprescindíveis para os telefones celulares. Mas, sem dúvida, a opção mais temível é que aplique os planos de contingência que afirma ter para evitar o isolamento norte-americano (o plano B mencionado pela Huawei) e desenvolva um sistema operacional em substituição ao Android, acabando com o quase monopólio do Google {o que seria mais uma derrota para o atual sistema de controle dos EUA}, que tem 85% do mercado.
O plano inclui também o desenvolvimento de seus próprios chips de processamento e memória, rompendo o cerco imposto por fabricantes como Intel, Qualcomm, Xilinx, Broadcom, Micron Technology e Western Digital, ou pela britânica ARM. Os conglomerados industriais chineses como a Huawei teriam que realizar uma longa travessia pelo deserto, mas no final estariam prontos para destronar gigantes norte-americanos como Google, Cisco, Microsoft e Qualcomm, cujo domínio hoje ninguém discute.
O que realmente está em jogo é algo mais que a desilusão de milhões de usuários da Huawei. O sistema 5G representará 15% das conexões móveis globais em 2025, chegando a cerca de 30% em mercados como China e Europa e 50% nos EUA, segundo a GSMA. Nesse ano, a quantidade de conexões globais da Internet das Coisas vai triplicar, atingindo 25 bilhões. Agora, resta decidir se quem controla essas redes inteligentes e os dispositivos à distância terá seu escritório em Pequim ou Washington.
TRUMP, ENTRE A GUERRA FRIA E UM ACORDO COMERCIAL
O medo de que a China controle as comunicações e a transmissão de dados no futuro é o que transforma o que parecia uma guerra comercial em um combate de extrema importância na indústria tecnológica – e, no fundo, na origem de uma possível nova corrida armamentista. Ou seja: o problema REAL não é o celular, nem o sistema 5G simplesmente, mas tudo o que Pequim pode chegar a desenvolver com essa rede além do uso civil. Por isso, Washington também estuda vetar a empresa chinesa de vigilância de vídeo Hikvision.
A tensão atual não nasceu com a Administração de Trump. Mas foi esta, repleta de falcões em matéria comercial, que fechou o cerco contra Pequim de um modo que Barack Obama, apesar de ter o mesmo diagnóstico, não se atreveu. Mas é uma pressão contraditória, característica do estilo negociador de Trump: apesar da escalada dos últimos dias, ele procura selar um grande acordo comercial com a China.
As proporções de uma guerra econômica entre os EUA e a China são enormes. O fluxo comercial entre as duas potências movimenta cerca de dois bilhões de dólares por dia, e o atual grau de interconexão entre produção, oferta e finanças faz com que a pressão, na verdade, afete meio planeta. Para Washington, a cumplicidade da União Europeia e os demais aliados no aperto contra Pequim é básica, mas a resposta é muito mais fria do que a Casa Branca gostaria.
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