ESCAVANDO ÓRION?


Histórico das primeiras escavações em Nínive
Por Jornalista Externo
26/03/2003
18:39

Arqueologia no Iraque

Nínive é fartamente mencionada na Bíblia como uma cidade de características populacionais e tendências ideológicas estreitamente relacionadas com o povo de Israel. Nínive é referida como uma cidade edificada por Ninrode, “poderoso caçador” e um dos descendentes de Cam, filho de Noé (Gên. 10:11). Nínive é também citada como a capital da Assíria a qual retirou-se o rei Senaqueribe após constatar que seu exército fora dizimado durante o cerco de Jerusalém no tempo do rei Ezequias, rei de Judá, e do profeta Isaías (II Reis 19:36; Isa. 37:37).

O profeta Naum previu a destruição de Nínive pelas forças babilônicas do rei Nabopolassar, e descreve esse fato em versos poéticos que exaltam a justiça Divina sobre as nações pagãs (Naum 1:1 e 3:7). Porém, o evento mais conhecido em relação à “grande cidade de Nínive”, “cuja malícia chegara até os Céus”, é aquela descrevendo a participação do profeta Jonas para promover a conversão a Deus dos ninivitas e, dessa maneira, salvar a cidade de iminente destruição.


Capital imperial

Historicamente existem referências destacando Nínive como uma cidade populosa do terceiro milênio antes de Cristo. Durante o reinado de Sargão II, rei da Assíria, tornou-se uma das capitais do império pela sua importância comercial e geográfica, e por estar edificada nas margens do Rio Tigre. No reinado de Senaqueribe, chegou a ser a única capital do império assírio. Os reis Esarhaddon e Assurbanipal embelezaram Nínive com suntuosos palácios e templos.

As crônicas do rei Nabopolassar da Babilônia relatam a união das forças militares dos caldeus (Ur) e dos medos (Madai) para destruir Nínive até transformá-la em ruínas silentes de um passado esplendoroso. Este fato que marcou o fim do império ocorreu em 612 a.C. e, desde então, toneladas de areia dos desertos sepultaram os restos dos majestosos palácios, tornando-os em promontórios de uma região acidentada.

As ruínas da antiga e populosa Nínive encontram-se na margem oriental do Tigre, numa posição oposta à atual cidade de Mossul. Em 1820, C. J. Rish, que trabalhava como agente da British East Índia Company, visitou Mossul por quatro meses. Neste período, interessou-se pelo relevo da região e desenhou uma planta das montanhas, colecionou vários objetos antigos e documentos com inscrições que ninguém podia ler, incompreensíveis na época.

Na planta desenhada se destacavam duas colinas: Kuyundrik e Nebi-Junus, que os nativos relacionavam essa última com a tradição do profeta Jonas. Em 1842, Paul Émile Botta, nomeado cônsul francês em Mossul, estimulado pelas informações deixadas por Rish, iniciou as escavações na colina Kuyundrik ao longo de vários meses, sem sucesso aparente.


Ruínas

Desestimulado pelos resultados nessa colina, continuou as escavações numa outra, em Korsabad, 15 quilômetros ao norte, onde encontrou esculturas nas ruínas do palácio de Sargão II. Em 1845, chega a Mossul, Austen Henry Layard, do Museu Britânico. Imediatamente inicia escavações em Nimrud, 30 quilômetros ao sul de Kuyundrik, lugar onde encontra restos de palácios e inscrições assírias.

Em 1849, Layard realiza escavações em Kuyundrik, no sítio arqueológico abandonado por Botta. Em pouco tempo descobre as ruínas do palácio de Senaqueribe e o famoso Prisma Taylor, relatando os anais do imperador incluindo o cerco a Jerusalém no tempo de Ezequias (II Reis 18 e 19). Logo, a antiga Nínive aflorava novamente no silêncio das suas ruínas que transmitiam um passado esplendoroso.

Fascinado pelos achados, embora impulsionado mais pelo orgulho nacional britânico do que pelo interesse científico, Layard empenhou-se em mais descobertas. Em 1850, juntamente com seu assistente Hormuzd Rassam, encontraram a famosa Biblioteca de Assurbanipal II (669-626 a.C.), contendo mais de 24 mil tabuinhas de argila escritas em cuneiforme acadiano e sumeriano. Este achado demonstrou que Assurbanipal, interessado nos fatos passados, mandou seus escribas a vários lugares a fim de colecionar documentos de antigas bibliotecas. Entre os registros mais importantes para o estudo da Bíblia encontrados nessa biblioteca, figuram o relato babilônico da Criação numa versão assíria datada de 650 a.C., a qual é considerada como cópia de uma versão mais antiga. O relato do Dilúvio, escrito em 12 tabuinhas de argila e que compõe o poema da “Epopéia de Gilgamesh”. Outros relatos são a “Lenda de Etana”, o “Mito de Adapa”, cujo conteúdo é uma versão sobre a criação do homem.

Entre os anais históricos cabe apontar o “Cilindro Rassam”, mandado escrever por Assurbanipal para registrar seus feitos guerreiros, uma confirmação sobre o tributo do rei Manasses, de Judá, conforme é relatado em II Crônicas 33:11.

Além desses achados, foram também descobertas as ruínas dos palácios de Tiglat-Pileser I (1115-1072 a.C.), Assurbanipal II (884-859 a.C.), Sargão II (722-705 a.C), testificando sobre Nínive como a grande capital do império assírio.

Rubén Aguilar é Doutor em História Antiga pela USP, é arqueólogo e professor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, Campus Engenheiro Coelho, SP.


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